Dezembro de 2012
Conselhos enfrentam desafios.
Integrantes de movimentos sociais e conselheiros municipais avaliam o papel
desses organismos e as dificuldades para ampliar a participação.
Por FERNANDA SANGLARD Repórter
Compartilhar- Cobrar melhorias do
Poder Público e reclamar do que não anda bem podem ser atitudes comuns entre a
população. Mas uma pequena parte, de fato, exerce participação popular mais
efetiva. Fica nas mãos dos poucos habitantes envolvidos com os conselhos
municipais boa parte da responsabilidade de representar a sociedade nas
instâncias de construção de políticas públicas. Em momento de troca de gestão
municipal, e há aproximadamente duas décadas depois dessas iniciativas terem
sido implantadas no país, a Tribuna convidou envolvidos com o tema para
avaliarem as conquistas e os desafios na experiência vivenciada na cidade.
Apesar de os conselhos serem um precedente da Constituição de 1988, Juiz de
Fora foi pioneira ao instituir em 1983 o Conselho Comunitário Municipal. Mas
somente na década de 1990, após a promulgação da nova Carta Magna, os conselhos
passaram a ser constituídos nos moldes que vemos hoje. Fundamentais para
ampliar a integração dos diferentes atores sociais na condução da partilha de
recursos e políticas públicas, esses organismos também se tornaram importantes
nos processos de controle social. Contudo, diversas dificuldades ainda são
impostas para que funcionem como idealizados.
Entusiasta desse movimento na
cidade, o vereador Flávio Cheker - que se despede da cadeira na Câmara
Municipal e assume a Secretaria de Assistência Social nos próximos dias -,
lembra que os conselhos são relativamente recentes na vida pública. "São
fruto da Constituição que busca trazer alguns organismos de participação
popular e controle social." Mas, de acordo com ele, houve um processo de
implantação que é naturalmente lento, "e hoje passamos ainda por um
período de consolidação do poder dos conselhos". O coordenador de projetos
da Casa dos Conselhos, Wagner Oliveira Nogueira, assim como Cheker, defende que
essas estruturas são fundamentais para a democracia. Segundo ele, a existência
da Casa dos Conselhos, que é um espaço da Prefeitura vinculado à Secretaria de
Governo e destinado a sediar e articular ações entre a sociedade civil e o
Poder Público, é um avanço. O envolvimento dos dois setores também é avaliado
por Oliveira como um ponto positivo.
No entanto, conforme Cheker,
ainda há muitos desafios. "Alguns conselhos são exigidos por legislação
federal e outros são criados no ambiente da municipalidade. Em tese, deveriam
propiciar maior poder na gestão dos recursos públicos. Mas, na prática, isso
não ocorre como esperado por debilidades do Poder Público, mas também dos
movimentos sociais. Em certo sentido, o Executivo atrofia algumas funções de
determinados conselhos, mas, por outro lado, a própria sociedade não se
organiza, ou se organiza precariamente."
Integrante do Conselho Municipal
de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea), Bettina Koyro defende mais autonomia
dos conselhos. "Em alguns, isso é possível, mas outros ficam muito
atrelados ao Governo. É preciso independência, porque uma das funções dessas
estruturas é fiscalizar e controlar o Poder Público. Sinto que ainda há pouca
participação dos gestores nesse sentido e que os representantes da sociedade
civil precisam estar mais interessados em responder pelas demandas da sociedade
do que pelas dos governantes."
Entraves dificultam planos e
articulação- "Os conselhos dependem do apetite da sociedade", assim
Flávio Cheker justifica a maior mobilização de alguns setores. No entanto, ele
acredita que vontade política é necessária. "O Conselho Municipal de
Políticas Deliberativas sobre Drogas foi votado e sancionado, mas sua
instalação ainda não foi feita. Vai tratar de um assunto que preocupa e
mobiliza a sociedade, mas essa delonga esfria o debate", cobra Cheker. Já
o conselho da Juventude está inativo por falta de presidência. De acordo com
coordenador da Casa dos Conselhos, Wagner Oliveira, é importante restabelecer o
funcionamento. Ele também ressalta a necessidade de que "a
diretoria-executiva de cada conselho se organize e solicite capacitação da
secretaria na qual o órgão está vinculado. Ao mesmo tempo, é importante que os
conselheiros se comprometam com a causa que representam".
Na visão da assistente social e
conselheira de saúde Ana Paula Brandão Costa, alguns conselhos estão
desmobilizados por não terem recebido a devida importância. "A população
desanima de participar." Ela explica que o envio de documentos com pouca
antecedência para apreciação e as dificuldades impostas para efetivar as
propostas desestimulam os integrantes.
A conselheira do Comsea Bettina
Koyro concorda, mas defende que a população não se desarticule por conta de
entraves. "Praticamente nenhuma elaboração do Comsea foi colocada em
prática nos últimos anos. O diagnóstico sobre a situação da insegurança
alimentar nem saiu do papel. Mas não vamos desistir. Temos esperança que a
próxima gestão municipal possa dialogar nesse sentido." Necessidade de
nomeação e título- A nomeação informal é outro impasse levantado por Ana Paula
Brandão Costa. "É ruim porque não cria vínculo nem dever de participação.
No meu caso, sou conselheira na prática, mas até hoje não fui nomeada. Meu
envolvimento se deve muito mais ao meu interesse de colaborar do que à
formalidade." Oliveira explica que, nesse caso, sendo a composição
determinada em lei específica, cabe à diretoria executiva de cada conselho
cumprir o que determina a legislação e solicitar ao Poder Executivo a indicação
(nomeação) dos representantes e, posteriormente, em plenária, empossar os
indicados ou eleitos. Outras questões simples, porém burocráticas, também
comprometem a efetividade dos órgãos. No caso do Conselho das Pessoas
Portadoras de Deficiência (CMPD), o próprio nome vai contra o que é preconizado
pelas entidades e pelos estudiosos da causa. Isso porque o termo considerado
mais adequado atualmente é "pessoas com deficiência". Conforme
Cheker, isso é uma questão simples de ser resolvida, por meio de uma emenda à
legislação, mas depende de mobilização do próprio conselho.
O fato de o CMPD ainda ser
consultivo também é questionado. "Essa limitação compromete a agilidade e
dificulta os encaminhamentos, porque não pode deliberar. O próprio conselho vai
precisar se mostrar necessário e importante para buscar essa credibilidade. Uma
boa meta seria alterar o nome e a deliberação", sugere a presidente da ONG
Somar Brasil, Thaís Altomar.
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